MUPA: Entrevista a Vítor Domingos
- João Pedro Antunes
- 31 de mai. de 2019
- 4 min de leitura
Nos passados dias 10 e 11 ocorreu, numa colaboração entre a Organização Cultur+ e a Câmara Municipal de Beja, a primeira edição do MUPA. Este festival eclético contou com diversos nomes, entre eles Allen Halloween, Lena d'Água, 10 000 Russos, Mynda Guevara e Bloom. Realizado em cinco espaços diferentes do Centro Histórico bejense, o evento revelou-se um sucesso, tendo esgotado os seus bilhetes durante o concerto de Allen Halloween.
Entrei em contacto com Vítor Domingos para reflectir acerca da sua experiência enquanto um dos produtores do MUPA, em formato de entrevista.
1 - Como surgiu originalmente a ideia do MUPA? Sempre esteve planeado ser um festival de diversos géneros e locais? Vítor Domingos (VD) - Houve uma certa altura, quando estava a organizar o Santa Maria Summer Fest (SMSF), que decidi colocar outros géneros de música no festival, que era na sua génese de Punk e Metal. À medida que o meu gosto musical ia evoluíndo, o festival também, passando a abranger nas suas últimas edições alguma música electrónica, Hip-Hop e música experimental. Ora, quando deixámos de organizar o SMSF, eu fui viver para Lisboa, onde consumi mesmo muitos concertos. Então, quando voltei para Beja, já tinha muitas ideias, e uma das quais seria organizar um festival de música eclética aqui na cidade. O conceito foi amadurecendo e eventualmente tive a ideia de organizar concertos no Restaurante Pé de Gesso e no Jardim do Bacalhau, por exemplo. Com todas essas ideias em mente, apresentámos o projecto à Câmara e foi aprovada, permitindo-nos fazer então o festival. O MUPA é essencialmente um festival que procura ter um cartaz diversificado e em diferentes pontos da cidade de Beja, todos eles locais que fazem parte do património material e cultural local e às quais a população bejense guarda uma memória colectiva. Temos, por exemplo, o Restaurante Pé de Gesso, onde aconteceram grande parte dos concertos do primeiro dia [Systemik Viølence, Putas Bêbadas, Mynda Guevara, etc...]. É um local onde, pelo menos nos meus tempos de estudante, o pessoal do Ensino Básico e Secundário fazia os seus jantares. Nunca imaginaria, na altura, que o Pé de Gesso teria, daí a uns anos, uma rave. Porque aquilo foi uma rave [performances de Tutti Morti e João Melgueira], no primeiro dia. Enfim, a ideia foi mesmo essa: misturar a memória colectiva, os espaços, o património à música e apresentar, portanto, um cartaz diversificado.
2 - Como descreverias a experiência de organizar o festival, comparadamente a outros eventos nos quais participaste anteriormante (como, por exemplo, o SMSF)? VD - São dinâmicas diferentes. O SMSF era um festival que acontecia dentro de um recinto fechado com dois palcos. Ora, num recinto fechado é mais fácil prever certas coisas, por ser um espaço limitado. Porém, era mais difícil de construir porque tínhamos de ter tudo, inclusivamente recintos improvisados com vedações e etc... Já o MUPA acontecia em cinco lugares diferentes, o que é uma logística completamente diferente. Nós tínhamos de ter pessoas em todos os lados e criar pontes comunicativas entre elas, de forma a estarmos todos sincronizados. Chegámos a ter alguns atrasos, tanto no pré-festival como durante o festival, mas creio que nada demais para uma primeira edição. No geral correu bastante bem.
3 – Que momento desta edição destacarias? VD – Apesar de sempre termos conseguido trazer bastante público de fora no SMSF, nunca conseguíamos vender muitos bilhetes à população de Beja. Isso foi algo que mudou com o MUPA, onde a maioria dos bilhetes eram vendidos à população local, apesar de também termos conseguido trazer muito público de fora. Creio que há muitos pontos a destacar. Destaca-se a qualidade do som, por exemplo. Foi algo no qual apostámos bastante e creio que trouxe resultados. Aliás, penso que foi por isso que conseguimos manter tanto pessoal – tanto miúdos como graúdos – naqueles espaços fechados. Dou também bastante ênfase à forma como o pessoal de cá recebeu o pessoal de fora: foi um gesto bastante bonito! Acerca de concertos individuais, não te posso destacar apenas um, visto que todos eles foram importantes. Mas sim, os protagonistas do MUPA foram, de facto, as pessoas que lá estavam a assistir aos concertos.
4 – Sentes que o MUPA teve o impacto que pretendias? VD - Por acaso o impacto que o MUPA teve é algo que ainda não consegui digerir muito bem. Isto porque, tendo em conta que esgotámos, correu ainda melhor do que eu estava à espera, em termos de público. Eu creio que teve um impacto, sim. Isso nota-se, por exemplo, na quantidade de pessoas que já nos vieram agradecer pelo cartaz e pelo festival: tanto pessoal de Beja como pessoal de fora. Penso que, se mantivermos a mesma qualidade durante os próximos anos, podemos transformar o MUPA, de facto, num ponto de referência dos festivais em Portugal.
5 – Podemos esperar uma segunda edição do MUPA? Se sim, existe alguma novidade em mente? VD - Podemos esperar uma segunda edição do MUPA, mas tudo estará dependente de reuniões que vamos ter em breve com as entidades que nos ajudarão a organizar o festival. Em relação de novidades para a próxima edição, não poderei revelar nada... Não temos nada planeado. Temos algumas ideias em mente mas ainda estão em fase demasiado prematura para poder estar a falar delas agora.
6 – Agora que foi dada como terminada a primeira edição do festival, que projectos tens em mente para o futuro próximo?
VD - Nós vamos começar a organizar uns eventos em Beja, sobre os quais eu ainda não me posso alongar muito. Assim que houver novidades, mandarei aqui para o blog!
(Entrevista realizada a 26 de Maio de 2019 e publicada a 31 de Maio do mesmo ano).
Comments