Bloc Party: Do Pior Ao Melhor
- João Pedro Antunes
- 9 de set. de 2019
- 7 min de leitura
Chegou a vez dos Bloc Party! Formados em 1999 por Kele Okoreke e Russell Lissack (com o baixista Gordon Moakes e o baterista Matt Tong a juntarem-se posteriormente), o quarteto britânico começou a ganhar reconhecimento com os seus primeiros singles e EP's (destacando-se os hinos Banquet e Helicopter), tendo desde aí lançado cinco álbuns.
O seu álbum de estreia - Silent Alarm - foi um sucesso estrondoso e difícil de igualar (pelo menos em termos de rececção), mas destacam-se ainda assim outros singles de sucesso, como Hunting For Witches, Flux ou Octopus. Após um hiatus razoavelmente duradouro causado pela saída de Moakes e Tong, a banda lá conseguiu recrutar o baixista Justin Harris (membro dos Menomena) e a baterista Louise Bartle (guitarrista dos Novaclub) e lançar em 2016 o seu quinto álbum: Hymns.
Ora, eu irei classificar todos estes cinco álbuns do quarteto, começando por aquele que eu considero como o pior e terminando com o melhor. Destaco que somente os álbuns de estúdio contam, por isso não veremos EP's como Bloc Party ou The Nextware Sessions na lista,
Dito isto, aqui vamos nós:
5. Hymns

Géneros: Indietronica, Synth-Pop, Indie Rock, Dance Alternativo
Data de lançamento: 29 de Janeiro de 2016
Classificação do RateYourMusic: 2.20/5.0 (896 classificações)
Editora: BMG, Infectious Music
Eu entendo o porquê da maior parte dos fãs dos Bloc Party não gostarem deste álbum. Afinal, é o primeiro esforço do quarteto após a saída de Gordon Moakes e Matt Tong e a entrada de Justin Harris e Louise Bartle (além disso, enquanto os quatro álbuns anteriores foram escritos pela banda, todas as faixas deste álbum foram escritas exclusivamente pelo frontman Kele Okoreke. Já o guitarrista Russell Lissack está muito, muito ausente); já para não falar que vai artisticamente na direcção oposta que se esperava, especialmente após o lançamento de Four, que pareceu dar indícios a um lento regresso ao Silent Alarm. Contudo, apesar de eu considerar este o pior projecto lançado pelo grupo londrino, não acho que seja assim tão mau.
Hymns é inesperadamente inspirado pela música Gospel (Only He Can Heal Me é talvez o maior exemplo disso), apesar de ainda ter inegáveis traços de música de Dança por vezes acompanhados de sintetizadores (The Love Within). É verdade que existem faixas bastante aborrecidas - especialmente na segunda parte do LP (Living Lux e Eden), e que por vezes as letras soam demasiado forçadas ou até sem sentido (Fortress e Into the Earth, apesar da última ter um instrumental decente), mas tem sempre os seus pontos altos (Exes, Only He Can Heal Me, The Love Within e The Good News, por exemplo). Eu diria que este álbum poderia ser considerado quase como um projecto a solo do Kele Okoreke (apesar de não ser tão inspirado no House e no UK Garage, como nos seus verdadeiros álbuns a solo como The Boxer), mas também poderia considerá-lo como um dos primeiros passos de uma espécie de nova banda de Kele Okoreke, com um toque muito mais íntimo que os antigos Bloc Party.
4. Four

Géneros: Indie Rock, Rock Alternativo, Dance-Punk, Post-Punk, Post-Punk Revival
Data de lançamento: 20 de Agosto de 2012
Classificação do RateYourMusic: 2.79/5.0 (1.3K classificações)
Editora: Frenchkiss Records
Após dois álbuns não tão bem recebidos por um público que esperava uma sonoridade semelhante ao clássico Silent Alarm, os Bloc Party cederam e voltaram a fazer um álbum de puro Rock e Dance-Punk... mas à sua maneira.
Em Four, o quarteto britânico mostrou a sua força bruta e electrificante (3x3 e We Are Not Good People) com os seus intervalos mais suaves (Real Talk e Truth), tal como fazia em Silent Alarm. Porém, nota-se que eles quiseram experimentar dentro desses géneros (creio que a única faixa que encaixaria de forma brilhante no álbum de estreia seria Octopus).
Todavia, este LP tem um grande problema: uma certa falha de química e de interligação entre as diferentes ideias que o grupo tinham em mente. Creio que ir de Kettling (uma faixa electrificante com um solo fenomenal) para Day Four (uma balada que se vai desenvolvendo e crescendo para algo mais detalhado e complexo) não foi a melhor escolha, por exemplo. E por vezes nem é preciso ir à prórpia tracklist: a faixa Coliseum é de facto bastante movimentada e eléctrica, mas é completamente estragada pela sua intro incompatível (se bem que a faixa que lhe segue - V.A.L.I.S. - também não encaixa em termos de tracklist, apesar de ser em si uma faixa bastante boa, e talvez a mais orelhuda que os Bloc Party alguma vez lançaram).
Enfim, o álbum em si está organizado de uma forma caótica, mas é ainda assim uma experiência divertida.
3. Intimacy

Géneros: Indietronica, Indie Rock, Dance Alternativo, Post-Punk Revival
Data de lançamento: 21 de Agosto de 2008
Classificação no RateYourMusic: 2.79/5.0 (2.3K classificações)
Editora: Wichita Recordings
Pode ter demorado algum tempo a entranhar-me, mas a verdade é que hoje em dia eu adoro este álbum!
Em Intimacy, os Bloc Party continuaram a experimentar, usando ainda mais electrónica do que no álbum antecessor, chegando a um ponto em que as guitarradas explosivas se misturavam com electrónicas convulsivas (Ares, Mercury e Trojan Horse). Por vezes o Rock é mesmo abandonado quase integralmente e entramos inegavelmente em território de Dance Alternativo (Zephyrus e Ion Square), e de uma forma muito mais animada do que em Hymns. Há também transições sólidas entre as músicas fortes e feias e as delicadas e suaves (Biko e Signs, que vão na mesma onda que Blue Light de Silent Alarm, mas devidamente inseridos na identidade de Intimacy), algo que faltou em Four, que se mostrou um bixo de sete cabeças: cada uma a pensar em algo diferente. Já para não falar que Intimacy descobriu a melhor maneira de começar um álbum e de manter a sua hype até ao fim.
Claro, o LP ainda tem um defeito ou outro, apesar de mínimos: One Month Off é uma música da qual me farto bastante facilmente. Adicionalmente, existem também ocasionais mas perdoáveis ofuscações da bateria de Matt Tong (sendo que muitas das batidas deste álbum são feitas pela electrónica). Ainda assim, nada de grave: ainda o considero um dos melhores álbuns de 2008 e um dos álbuns que marcou uma das evoluções mais interessante de uma banda nos 2000's.

Géneros: Indie Rock, Post-Punk Revival, Rock Alternativo
Data de lançamento: 5 de Fevereiro de 2007
Classificação do RateYourMusic: 3.05/5.0 (3.9K classificações)
Editora: Wichita Recordings
Apesar de já ter feito uma crítica só a este álbum no meu antigo blog, a minha opinião já teve mudanças bastante consideráveis desde aí.
Para começar, foi aqui que os Bloc Party mandaram o seu primeiro belo manguito à imprensa e aos fãs no geral, que queriam algo semelhante ao projecto antecessor: eles pretendiam tentar soar mais maturos e experimentar um pouco com a electrónica e com as constantes transições de suave a histérico, tornando o LP numa autêntica montanha-russa (basta ouvir canções como Song For Clay (Disappear Here), Waiting For The 7.18 ou On para chegar a esta conclusão). Além disso, vemos também em Flux uma pequeníssima pista daquilo que viria a ser o próximo álbum: Intimacy.
Há que ter também em conta as letras, que são mensagens de uma frustração imensa da sociedade da época (apesar de ainda servir a carapuça a 2019 na perfeição), com letras sobre terrorismo (Hunting For Witches), problemas mentais como a depressão (SRXT), efeitos da droga (On), etc... Chegamos ao ponto em que temos algumas referências ao filme/livro A Última Viagem em Beverly Hills (da autoria de Bret Easton Hills) - um best-seller bastante contorverso pelas suas críticas sociais duríssimas a uma juventude cada vez mais decadente - na canção Song For Clay (Disappear Here). O tema da juventude retorna posteriormente em Kreuzberg e Waiting For The 7.18.
Foi por um bom tempo o meu álbum favorito dos Bloc Party, e ainda hoje se situa razoavelmente perto do próximo na lista. Contudo, apesar de não ser o meu favorito da banda, ainda é dos meus preferidos da década passada.
1. Silent Alarm

Géneros: Post-Punk Revival, Indie Rock, Dance-Punk
Data de lançamento: 14 de Fevereiro de 2005
Classificação do RateYourMusic: 3.60/5.0 (9.1K classificações)
Editora: Wichita Recordings
Este álbum... Meu Deus, que álbum!... É difícil sequer pensar onde começar, porque temos aqui tudo o que eu considero essencial num álbum deste género: um kickstart badass para mostrar quem realmente manda (Like Eating Glass), canções criminalmente orelhudas (Banquet e Price of Gasoline), momentos de calma antes de mais tempestades (Blue Light e This Modern Love), guitarras capazes de causar um metafórico óbito por electrificação (Helicopter), momentos um pouco mais atrevidos e arriscados em termos instrumentais (Positive Tension), etc..., etc..., etc... Não há uma única música má neste LP: chega a ser surreal!
Há que destacar a excelente química entre os membros, pois todos eles adicionam algo especial: Kele Okoreke tem os vocais perfeitos para este tipo de sonoridade; Russell Lissack não se importa de experimentar um pouco com os pedais para causar sons interessantíssimos (Like Eating Glass); Gordon Moakes opta pela simplicidade no baixo, que fica surpreendentemente bem na vibe de Silent Alarm (e mesmo os vocais de apoio em faixas como Positive Tension adicionam um grande hype ao álbum); e por fim a monstruosa, surreal e quase sobre-humana actuação do baterista Matt Tong, que se mostra incansável ao longo de todo o álbum! Na minha opinião, Silent Alarm é dos melhores álbuns de estreia lançados por uma banda. Tem a solidificação de uma banda experiente, mas o espírito de uma banda jovem, o que é super raro.
Aceito que eles tentem experimentar nos álbuns seguintes (aliás, isso mostra vontade de evoluir e revitalizar, saíndo da zona de conforto para não acabar como os Interpol), mas percebo a gigantesca recepção do álbum por... toda a gente(?). Infelizmente, o sucesso de Silent Alarm não trouxe só coisas boas para a carreira dos londrinos, visto que eles passaram a entrar num estado onde serão criticados quer voltem à sonoridade do álbum de estreia, quer prossigam a re-inventarem-se. De qualquer das maneiras, terão sempre o fantasma do Silent Alarm sob as suas cabeças.
E vocês, como organizariam os álbuns? Curiosamente organizei por ordem inversa de lançamento... Acontece. Abaixo está uma playlist com as músicas mais icónicas dos Bloc Party: The Angel Range (AKA um dos antigos nomes do quarteto antes de se fixar com Bloc Party):
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