Discografia dos Arctic Monkeys: Pior a Melhor
- João Pedro Antunes
- 3 de mai. de 2019
- 9 min de leitura
Atualizado: 10 de mai. de 2019
Creio que não existam muitas pessoas por aí que desconheçam os Arctic Monkeys. Aclamados tanto pela cultura Maisntream (devido ao álbum AM, mas em especial o hit Do I Wanna Know?), como pela Alternativa (devido também mas não exclusivamente aos dois primeiros álbuns), o quarteto originário de Sheffield já esgotava concertos mesmo antes de lançar o seu álbum de estreia!
Inicialmente conhecidos pelas suas performances cruas e eléctricas que ajudaram a guiar o Garage Rock Revival para o seu auge, os britânicos liderados por Alex Turner mudaram muito ao longo dos anos: hoje, quase um ano após o lançamento do sexto álbum (Tranquility Base Hotel + Casino), aparentam querer parecer mais maturos, com um vocabulário mais sofisticado e com instrumentos suaves que, em vez de guiados pela guitarra (como de costume), são guiados pelo piano.
Pois bem, após uma (milésima) ouvida pela discografia do quarteto Indie, decidi classificar os seus seis álbuns lançados até à data, por ordem de preferência (pior a melhor. Na minha opinião, claro) e o porquê de tal álbum se encontrar em determinado lugar. EP's como Who The Fuck Are Arctic Monkeys? ou demos como Beneath the Boardwalk não serão incluídos.
Dito isto, começemos:

Géneros: Indie Rock, Rock Psicadélico, Rock Alternativo
Data de lançamento: 6 de Junho de 2011 Classificação do RateYourMusic: 2.97/5.0 (5.5K classificações)
Para compor o seu quarto álbum, os Arctic Monkeys trabalharam mais em grupo do que o normal. Em vez de irem ao estúdio com demos e rascunhos já feitos, o quarteto focou-se em compor em grupo, possibilitando a partilha de ideias em tempo real. Claro, houve excepções, como Piledriver Waltz, que já havia sido inserido - enquanto versão acústica - no EP a solo de Alex Turner (Submarine) e as letras continuaram a ser escritas integralmente pelo frontman, mas é de destacar o trabalho em grupo na instrumentalização da obra. Destaca-se também o som mais poppy e vintage que o grupo abordou no álbum.
Mas então, porque é que Suck It And See está no fundo da lista? Pois bem, apesar de ter os seus pontos excepcionalmente altos (She's Thunderstorms, Don't Sit Down 'Cause I've Moved Your Chair e Piledriver Waltz), a maioria do álbum acaba por ser razoavelmente esquecível comparadamente com a restante discografia da banda. Continua a ser uma experiência louvável, isso é garantido! Porém, é o meu menos favorito da banda.
5. AM

Géneros: Indie Rock, Blues Rock, Rock Alternatico
Data de lançamento: 9 de Setembro de 2013
Classificação do RateYourMusic: 3.01/5.0 (8.8K classificações)
Este foi o álbum que lançou os Arctic Monkeys de vez para os lugares de topo da cultura Mainstream (especialmente a americana, onde os Arctic Monkeys nunca foram tão relevantes). O single que mais sucesso fez - Do I Wanna Know? - marcou a primeira entrada dos rapazes de Sheffield na Billboard Hot 100 e o álbum é, até agora, o maior best-selling de vinis da década em território britânico, com mais de 73 mil cópias vendidas.
Para gravar este quinto álbum, os Arctic Monkeys tiveram bastantes inspirações em mente. Algumas das mencionadas são: Black Sabbath, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars de David Bowie e OutKast, mas essas são apenas algumas. Alex Turner chegou a brincar com a situação, referindo o seguinte: "AM é como um beat de Dr. Dre, mas demos-lhe um corte de cabelo à Ike Turner e mandámo-lo galopear pelo deserto apenas com uma Stratacaster". Enfim, é devido a determinadas inspirações (mas especialmente o Hip-Hop) que AM conseguiu ser um sucesso Mainstream, mesmo sendo maioritariamente Alternativo. É inegável que, no meio de canções que fazem lembrar tanto o Rock de anos 70 (R U Mine? e Arabella), há também beats perigosamente viciantes (Do I Wanna Know? e Snap Out of It). As baladas, como Knee Socks, estão no ponto (principalmente com a back vocal de Josh Homme, frontman dos Queens of the Stone Age).
Porém, também consigo perceber o porquê de uma certa porção da cultura alternativa (definitivamente não os hipsters) não terem aclmadado tanto o AM como aclamaram, por exemplo, Favourite Worst Nightmare. O crítico Anthony Fantano, que deu um 3/10 ao álbum, representa bastante bem a opinião dessa porção: habituados à alta velocidade e energia que vemos em Whatever People Say I Am, That's What I'm Not e nos seus dois sucessores, poderão ver AM como "aborrecido" por ser muito mais lento (enquanto o primeiro álbum tem uma média de 130BPM's, AM tem uma média de 106). Se queres ver os Arctic Monkeys na mesma velocidade de Brianstorm, The View From the Afternoon ou Pretty Visitors, então este álbum, com baladas como I Wanna Be Yours (que é a única canção de toda a discografia da banda cuja letra o Alex Turner nem pôs as mãos em cima), Mad Sounds ou No. 1 Party Anthem, não é para ti. Além disso, há uma polémica por parte de alguns ouvintes na canção Arabella, por ter um riff quase idêntico à War Pigs, dos Black Sabbath.
4. Humbug

Géneros: Indie Rock, Garage Rock Revival, Stoner Rock, Rock Psicadélico
Data de lançamento: 24 de Agosto de 2009
Classificação do RateYourMusic: 3.26/5.0 (6,7K classificações)
Depois de dois álbuns super energéticos e de monstruoso sucesso alternativo, a banda lançou - em forte colaboração com Josh Homme - o seu terceiro álbum: Humbug.
Apesar de terem mantido a veia de Garage Rock Revival que os distinguia até àquele ponto, as artérias deixaram de bombar Post-Punk Revival e passaram a fazer correr Stoner Rock, o que fez com que o som do quarteto passasse a ser de certa forma mais escuro e pesado do que os seus antecessores. Entre tantos hinos de Stoner Rock (Crying Lightning, Dangerous Animals e Pretty Visitors, por exemplo) temos também uma espécie de balada (Cornerstone).
Destaca-se também a mudança no tipo de lírica que Alex Turner abordou neste álbum: mais escura e arrogante, algo que já viria a começar em Favourite Worst Nightmare (em faixas como Do Me a Favour) mas só agora emergeria por completo. O meu maior destaque na obra vai para a genialidade lírica que Turner distribuiu especificamente em Pretty Visitors e Dance Little Liar.
Creio que o principal responsável (mas não o único) por esta mudança de som foi Josh Homme, mas o crédito vai também para o grupo.

Géneros: Indie Rock, Post-Punk Revival, Garage Rock Revival
Data de lançamento: 23 de Abril de 2007
Classificação do RateYourmusic: 3.47/5.0 (9.7K classificações)
Assim que o primeiro álbum foi lançado, os rapazes de Sheffield voltaram logo ao estúdio para gravar o seu segundo álbum, mas desta vez com Nick O' Malley a substituir Andy Nicholson no baixo (Nicholson abandonou a banda por não apreciar a vida de tour mundial, preferindo manter um status mais discreto, quer seja como DJ em Sheffield ou como baixista em grupos de UK Garage inspirados em The Streets, como Mongrel ou Clubs and Spades).
Apesar das diversas semelhanças que Favourite Worst Nightmare tem com o seu álbum antecessor (quer seja por manter exactamente os mesmos géneros - Indie Rock, Post-Punk Revival e Garage Rock Revival - ou até por ter começado com uma música rápida. No caso deste álbum, a primeira faixa foi o supersónico Brianstorm), existem também certas diferenças, principalmente líricas. Nesta obra, Alex Turner convida-nos a uma viagem emocional que passa tanto pela refexão da fama e as suas consequências (Teddy Picker e If You Were There, Behave), como ao tempo e à nostalgia (Fluorescent Adolescent, cuja letra foi co-escrita com a sua namorada na época: Johanna Bennett), com passagens por anti-love songs (D is For Dangerous, que retrata um interesse amoroso que o narrador tem, mas que é totalmente passada dos carretes; Balaclava, que compara uma relação amorosa em específico com um assalto; e Do Me a Favour, uma música na qual o narrador percebe que é o mau da fita e pede que a sua parceira o deixe). Há também que destacar tanto 505 como (mais uma vez), Do Me a Favour, que marcam o início de uma nova fórmula lírica por parte de Alex Turner. A última chega a aproximar-se daquilo que se vê nas letras do álbum sucessor, Humbug. Enfim, apesar desses destaques em específico, o liricismo de toda a obra no geral foi genial, não passando de lado às críticas.

Géneros: Lounge Pop, Art Rock, Pop Psicadélico, Piano Rock
Data de lançamento: 11 de Maio de 2018 Classificação do RateYourMucic: 2.82/5.0 (5.0K classificações)
Não é à toa que pus este álbum em 5º lugar na minha lista dos 50 melhores álbuns de 2018, e sinceramente a minha opinião não mudou muito desde aí.
Tranquility Base Hotel + Casino é o sexto álbum da banda britânica, quase cinco anos após o monstruoso sucesso que foi AM. Se é realmente um álbum de Arctic Monkeys? Parece que sim. É uma obra muito diferente de todas as que lhe antecederam, tendo sido composto quase integralmente por Alex Turner (ao ponto que acho que só não foi um álbum a solo porque Turner se recusou a tal). Mas está em nome da banda, por isso, sim.
Destaca-se o facto de ser um álbum com um conceito muito estranho: um hotel no meio da Lua (por muito tempo pensei que fosse no meio do deserto). Porém, há que dar um spotlight ao facto de todo o lançamento ter sido comandado pelo piano, e não pela guitarra, o que deu um som ultra vintage e loungy. Notou-se também uma grande inspiração no último álbum da outra banda do frontman (The Last Shadow Puppets): Everything You've Come to Expect.
Liricamente, o álbum foi fortemente inspirado em toda a cultura pop na qual Alex Turner foi submetido nos últimos anos, principalmente filmes e livros (o maior exemplo disso é a faixa Batphone. Já para não falar que a criatividade para criar o raio de um hotel no meio da Lua tem de ter vindo de algum lado. O meu instinto diz-me que obras de gente como Ian Fleming ou Júlio Verne tiveram um papel crucial), mas vemos também letras dedicadas ao sexo oposto (She Looks Like Fun e The Ultacheese) ou até mesmo críticas ao facto de os críticos nunca darem uma classificação perfeita para o que quer que seja, guardando-a para uma situação utópica (Four out of Five).
Eu amo este álbum, por isso sinto grande pena ao saber que, comparadamente a todos os seus antecessores, este foi o menos bem sucedido. Claro, foi sucedido quanto basta. Afinal, ainda foi nomeado para um Grammy e foi o maior fast-selling de vinis no Reino Unido desde 1998. Porém, comparadamente com todos os outros álbuns, Tranquility Base Hotel + Casino foi um flop. A esmagadora maioria das pessoas estava à espera de um Do I Wanna Know? 2, mas os rapazes de Sheffield fizeram aquilo que acharam melhor: um álbum que parece ter sido fabricado para que Alex Turner pudesse fazer poses chiques no seu blazer beje e com os seus óculos cool à anos 70. Se é mau? Não de todo, o álbum é quase todo Alex Turner, e não me sinto desconfortável com isso. "Ah, esperei cinco anos para isto?!", pergunta o hipster wannabe no fundo da multidão. Sim. E valeu a pena.

Géneros: Indie Rock, Garage Rock Revival, Post-Punk Revival
Data de lançamento: 23 de Janeiro de 2006
Classificação do RateYourMusic: 3,55/5.0 (14.5K classificações)
Os Arctic Monkeys já eram populares muito antes do lançamento deste álbum, devido às suas performances eléctricas e cruas e devido ao demo Beneath the Boardwalk. Visto que o álbum de estreia só seria lançado a Janeiro de 2006, o grupo de Sheffield viu-se obrigado a lançar um EP - Five Minutes With Arctic Monkeys - para acalmar um pouco o hype. O aclamadíssimo primeiro single - I Bet You Look Good on the Dancefloor - que incluia futuros B-Sides como Bigger Boys and Stolen Sweethearts, teve a mesma função. O single atingiu o nº1 nos charts britânicos sem nem ter grande atenção por parte da cultura Mainstream. Finalmente, quando o álbum foi lançado, foi um sucesso Alternativo absolutamente monstruoso! Ultrapassou o álbum homónimo dos Elastica, lançado em 1995, como o maior fast-selling de um álbum de estreia de uma banda britânica (sim, maiores que os Beatles e que os Rolling Stones neste aspecto!), com 360 mil cópias vendidas na primeira semana. É também considerado o 371º e 19º melhor álbum de todos os tempos pelas revistas Rolling Stone e NME (respectivamente). É também considerado pela comunidade do RateYourMusic como o 4º melhor álbum de Garage Rock Revival de sempre (apenas superado por White Blood Cells e Elephant, dos The White Stripes; e pelo líder Is This It, dos The Strokes). Creio que, dito isto, dá para ver o quão aclamado e esperado foi o álbum de estreia dos Arctic Monkeys.
Este álbum (que foi o único com Andy Nicholson na banda) tem um conceito bastante interessante, abordando maioritariamente a vida nocturna dos clubbers do Norte da Inglaterra. Todas as observações e narrativas examinam o comportamento humano em nightclubs na primeira pessoa, falando do durante (I Bet You Look Good on the Dancefloor, You Probably Couldn't See For the Lights, But You Were Looking Straight at Me e Dancing Shoes) e o após uma saída a um bar (Red Light Indicates Doors are Secure retrata a dificuldade em apanhar um táxi após o fim de uma saída). Também há canções a retratar os subúrbios e culturas alternativas (Fake Tales of San Francisco) ou até mesmo canções acerca de um amor rebelde (Mardy Bum e Riot Van). Destaca-se também When the Sun Goes Down, que fala acerca das prostitutas da zona de Sheffield.
A sonoridade do álbum varia entre o eléctrico-cru (acabei de inventar o termo, sim. Os maiores exemplos disto são I Bet Look Good on the Dancefloor e o opener The View From the Afternoon) e o calmo (Riot Van), mas também consegue ser um híbrido de ambos (A Certain Romance, que foi talvez a música da banda criticamente mais aclamada até hoje). Porém, qualquer que seja o mood, tem sempre o seu de Indie Rock e definitivamente de Post-Punk Revival e de Garage Rock Revival. Foi devido à mistura tão bem feita desses três géneros que o álbum teve a aclamação que teve. Afinal, não nos podemos esquecer que a época de c. 2000-2007 foi quando esses três géneros atingiram o pique (outros álbuns sonoramente semelhantes que se destacaram foram Silent Alarm, dos Bloc Party; Boxer, dos The National, o álbum homónimo dos Franz Ferdinand, etc...).
Enfim, um dos melhores álbuns da década.
Assim terminamos. E qual é o vosso álbum favorito dos Arctic Monkeys?
Deixo-vos com uma pequena compilação de best-off's da banda, intitulada de Saturday Night, Sunday Morning (o nome original de Whatever People Say I Am, That's What I'm Not):
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