Clipping. - "There Existed An Addiction To Blood" (Crítica)
- João Pedro Antunes
- 12 de nov. de 2019
- 3 min de leitura
Nome: There Existed An Addiction to Blood Artista: clipping. Data de lançamento: 18 de Outubro de 2019 Géneros: Hip-Hop Industrial, Horrorcore, Noise, Dark Ambient Editora: Sub Pop There Existed An Addiction to Blood é o quarto e mais recente álbum do trio de Hip-Hop Industrial clipping., constituído pelo rapper Daveed Diggs e pelos produtores William Hutson e Jonathan Snipes. Neste LP, o trio prova mais uma vez que é um dos actos mais inovadores e criativos do seu género. Temos – da parte de Daveed Diggs – um explêndido story-telling e flow que se adaptam maravilhosamente bem aos instrumentais secos e aterrorizantes de William Hutson e Jonathan Snipes. Ora, toda esta química causou não só a criação do lançamento mais noisy do grupo desde Midcity como uma autêntica experiência cinematográfica. Aliás, corrijo-me: um autêntico filme de terror. There Existed An Addiction to Blood é indubitávelmente um filme de terror super específico e bizarro. O trio pensou em como causar o máximo de medo possível ao ouvinte, pondo-o fora da sua zona de comforto a partir de instrumentais que quase parecem uma colaboração Akira Yamaoka/John Carpenter e letras que não só são híper-pormenorizadas, como (quase) integralmente na segunda pessoa. Assim, obrigaram o ouvinte a pôr-se no lugar das vítimas de todas estas... não tão boas situações: levante o braço quem quiser fazer papel de vítima num Red Room da Dark Web (The Show, A.K.A. a faixa mais gore de todo o LP). Dito isto, há que destacar algumas partes do álbum: Nothing is Safe é uma excelente forma de começar o álbum, com um piano que se vai desenvolvendo num beat levemente inspirado no Trap, mas que ainda assim transmite bem toda a adrenalina presente na letra; acho incrível o som electrónico verificado na íntegra de Run for Your Life (que faz lembrar um carro a andar. Nunca tinha visto um artista a fazer um som tão realista a partir de electrónica. Podia jurar que era um som campo-acústico); Club Down seria uma faixa boa para rádio se não fosse a sua letra bizarra; Story 7 é uma excelente continuação à saga Story que tem acompanhado o trio há muito tempo; La Mala Ordina – que põe o ouvinte na perspectiva de alguém numa sala de tortura de uma máfia perigosa – é uma faixa fascinante que acaba com uma titânica parede de barulho crua e fria (podendo ser interpretada como o cedimento do protagonista, que se deixa sucombir lentamente à morte após ser submetido a qualquer uma das muitas torturas apresentadas no último verso. É, porém, pena que se tenham excedido no seu tempo de antena: 2 minutos); os interludes podem facilmente ser vistos como fillers, mas eu vejo-os como essenciais para a narrativa de todo o projecto; e, finalmente, Piano Burning: 18 minutos de um som que aparenta ser... um piano a arder. Sim. Só isso. Excessivo? Provavelmente, mas não é algo inédito: Annea Lockwood foi a primeira a fazê-lo, em 1968 (e até é creditada como compositora da faixa). Contudo, não deixa de ser uma forma caótica de acabar um álbum como este!... Enfim, é uma experiência super aterrorizante (a última vez que senti algo semelhante num álbum foi com You Won’t Get What You Want, dos Daughters) que poderá muito facilmente passar a fazer parte do meu ciclo de álbuns para ouvir especificamente em épocas festivas como o Halloween (não é à toa que decidiram lançar este álbum pouco antes dessa data. Chama-se marketing, amigos). Se és um fã de música industrial ou de música que abuse liricamente do Horrorcore (e apenas liricamente), este álbum vale mais do que a pena experimentar ouvir. Creio que não se arrependerão. Dou a este álbum um 19.5/20.
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