Watsky - Complaint (crítica)
- João Pedro Antunes
- 19 de jan. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 19 de nov. de 2019
Nome: COMPLAINT Artista: Watsky Data de lançamento: 11 de Janeiro Géneros: Pop Rap Editora: Independente
Nunca tive a oportunidade de o dizer (até porque o blog é bastante recente), mas o Watsky é daqueles artistas que jamais quererei largar ou esquecer. Musicalmente, devo-lhe muito. Descobri-o no final de 2015 (com 14 anos) a partir das suas interpretações de William Shakespeare, Edgar Allan Poe e do Quarto Doutor no canal de YouTube Epic Rap Battles of History. Comecei por ouvir Wounded Healer, depois Stupidass, seguido de Sloppy Seconds e IDGAF. Quando dei por mim já estava a ouvir toda a sua discografia a solo, desde o homónimo de 2009 ao All You Can Do: foi a primeira discografia completa que ouvi na minha vida, e foi com ela que me tornei um fanboy de Watsky. Contudo, eventualmente a febre passou e deixei de o ouvir com tanta frequência, mas nunca deixei de o acompanhar (mal de mim se o fizesse quando me marcou tanto, musicalmente)! Aliás, continuo a considerá-lo uma mente extremamente criativa e um excelente letrista. Enfim, com tudo isto, é de esperar que eu tenha estado tão ansioso pelo novo álbum, não é? Pois bem, eventualmente veio o dia 11 de Janeiro de 2019 com ele o quinto álbum de George Virden Watsky: COMPLAINT. Ouvi-o pela primeira vez no dia do lançamento, antes de ir para a escola (afinal, são só 28 minutos), e... fiquei desapontado. Não me interpretem mal, não foi péssimo! Porém, sabendo a criatividade que jaz dentro da mente de Watsky, sei que ele era capaz de melhor. Muito melhor. O conceito até é interessante: trata-se de uma relação tóxica amorosa dividida em três "actos": ascenção (Welcome to the Family, All Like Whatever e What Goes Up), decadência (Fuck It Up, Mean Ass Drunk e No Complaints No Conversations) e o crash, seguido do fim da relação - em outras palavras, o fim da "trama" (Feels Alright, Limo 4 Emos e Whitecaps) - porém, apesar da boa ideia, nem sempre foi posta em prática da melhor maneira: uma considerável parte do álbum está liricamente aquém de alguém como o Watsky. O principal exemplo dessa falta de aproveitamento artístico é a faixa All Like Whatever, que eu considero demasiado, demasiado simplista para alguém que ao longo da segunda metade da década passada foi considerado uma das maiores promessas nacionais do Slam Poetry e da poesia recitada. É verdade que tem um videoclip bastante criativo, mas podia ser muito mais bem desenvolvido, liricamente (e instrumentalmente também, mas o meu principal problema com essa faixa é mesmo o lirismo); e mesmo instrumentalmente, o álbum tem por vezes muito a desejar. O meu principal problema com ele é o exagero do auto-tune nas faixas What Goes Up e Fuck It Up, que no meu ponto de vista podia ser facilmente substituído por outras alternativas, como a de convidar um vocalista de apoio para cantar junto de Watsky ao invés de espalhar uma voz robótica por quase cinco minutos. Sim, é verdade que Watsky já referiu no seu Twitter e no AMA do Reddit que sabia que iria haver bastante insatisfação por parte do público por isso mesmo, mas que quis fazê-lo na mesma por ele gostar. Porém, também estou no meu direito de dizer que acho que foi uma péssima ideia. Na minha opinião, What Goes Up tinha potencial de ser um dos pontos altos do álbum, com um instrumental mais afastado do Hip-Hop e mais pegado ao Dream Pop, ao Indie Pop e à Indietronica (semelhante a Chemical Angel), mas o auto-tune faz o ouvinte (especialmente um que não suporte um mínimo dessa técnica. Eu apenas não gosto de exageros) distrair-se e não prestar atenção a mais nada além do auto-tune. Além disso - já fora dessas duas faixas - a esmagadora maioria das músicas são agridoces - Welcome to Family tem talvez uma das letras que mais gosto deste lançamento e tem um grande drop pré-refrão, mas quando chega à Outro da música passa a ser um pouco constrangedor por ser tão semelhante com um coro de missa com aquela constante repetição do "You deserve love! (Welcome to the family)", já No Complaints No Conversations tem inúmeros pontos altos e inúmeros pontos altos a ocorrerem ao mesmo tempo, sendo por essa mesma razão a única música que ainda me faz pensar se gosto dela, mesmo depois de pelo menos dez ouvidas ao álbum, etc...; outro aspecto a apontar é a má escolha nos singles do álbum, mas esse problema já é comum. Para um single principal de um álbum de Watsky, a melhor escolha é uma faixa que seja comercialmente aceitável (dentro dos padrões do lançamento) e onde ele cante os seus versos numa velocidade supersónica que põe Rap God do Eminem num canto (afinal, Whoa Whoa Whoa é de longe o single de Watsky que mais sucesso fez por seguir esses mesmos padrões). Pois bem, Watsky nunca foi muito bom a escolher singles. O álbum homónimo tinha Waking Hour ali à espera e o escolhido para single principal foi Fuck An Emcee Name, x Infinity teve Stick to Your Guns, Tiny Glowing Screens Pt.3, Talking to Myself e Brave New World como singles mas a faixa mais popular foi... Don't Be Nice, já COMPLAINT, apesar de não ter nenhuma faixa que encaixe perfeitamente nesses padrões, tem uma música que tem bastante potencial para ser um sucesso alternativo mas acabou por ser posto como 5º e último single: Limo 4 Emos. A prova que Limo 4 Emos dava um melhor single principal do que Welcome to The Family é o facto de estações de rádio como a AltNation terem adicionado a faixa à sua lista sem terem adicionado nenhum outro single do lançamento. Resumindo e concluindo: acho que com outras escolhas para singles, os álbuns podiam ser mais bem sucedidos. Porém, nem tudo é mau, também tenho pontos muito álbuns a apontar! Temos Mean Ass Drunk - o meu single favorito - que apesar da instrumentalização feliz fala das discussões constantes que se verificam num casal tóxico, cheias de desrespeitos e de embriaguez; Feels Alright, que é uma das músicas que mais ouvi desde que 2019 começou e neste momento uma das minhas favoritas de Watsky, por mostrar a sua faceta agressiva que eu tanto amo, apesar de se ver muito raramente (que eu me lembra, só a tinha demonstrado antes em Bet Against Me e Midnight Hearts). Nela, vemos Watsky a interpretar alguém a perder a paciência por completo devido, principalmente, à relação tóxica onde se vê, e com isso vem alguma gritaria e instrumentais muito inspirados no Rock mas sem abandonar o Hip-Hop, já para não falar da letra, onde vemos esse descontrolo ainda melhor do que no instrumental, chegando a um ponto em que já quase não se diz coisa com coisa e devaneia-se entre assunto e assunto sem conseguir sequer pensar como deve de ser (uma das situações que ele invoca é a de o Pai Natal se tentar suicidar a partir de Fetanyl, mas não conseguir encontrar a veia ou qualquer parte do seu corpo porque, bem, ele não existe de todo); e Whitecaps, que é provavelmente a melhor faixa de encerramento de álbum que Watsky alguma vez fez. Nessa faixa, vemos o fim da relação, em que a personagem principal explica bastante bem à sua parceira o porquê de não conseguir aguentar com essa relação por mais tempo, seguido de, finalmente, o estado de espírito pacífico que ele tanto ansiava mas não conseguia namorando com essa pessoa. Vemos também uma letra super bem construída, chegando ao ponto em que temos uma anáfora de sílabas quase perfeita. Enfim: no final, fiquei desapontado com o álbum, é verdade. Tenho bastante sentimentos misturados e contraditórios para com este álbum: apesar de ter tido os seus pontos fortes, teve muitos elos mais fracos, e é por essa mesma razão que não me vejo a voltar a este álbum muitas vezes, mas sim a faixas soltas.
Nota final: 12/20.
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