Do Pior ao Melhor: Gorillaz
- João Pedro Antunes
- 24 de nov. de 2019
- 8 min de leitura
Vocês não me escapam, Gorillaz! É a vossa vez! Os Gorillaz são uma banda virtual londrina criada em 1998 por Damon Albarn (frontman dos Blur) e Jamie Hewlett (co-criador da banda-desenhada Tank Girl). Conhecido por ser autor de canções icónicas como Clint Eastwood, On Melancholy Hill e Feel Good Inc., o grupo foi um dos grandes destaques da década passada, e não só pela música! São milhões os fãs que acompanham as aventuras dos membros fictícios (2-D, Noodle, Murdoc Niccals e Russel Hobbs) e a lore de todo o universo que os envolve, todo ele criado por Jamie Hewlett. Ora, abaixo irei ordenar toda a discografia do grupo, indo do pior ao melhor (na minha perspectiva), justificando as respectivas posições. Destaco, desde já, que apenas terei em conta os seis álbuns em estúdio, por isso não contem com compilações como D-Sides, G-Sides ou Laika Come Home. Dito isto, daremos então início à análise:
6. The Now Now

Géneros: Electro-Pop, Synth-Funk, Neo-Psychedelia, Synth-Pop, Chillwave
Data de lançamento: 29 de Junho de 2018
Editora: Parlophone Records
Pouco mais de um ano depois do lançamento de Humanz, os Gorillaz lançam o seu sexto álbum de estúdio: The Now Now. Ora, eu creio que este álbum é apenas uma obra de Electro-pop super genérica. Todo ele é um feel good vibe ao qual facilmente me enjoo. A faixa de abertura Humilty, por exemplo, acaba por ser uma música de "pop de praia" feliz e super-genérica, tornando-a bastante esquecível. Temos também o exemplo de Lake Zurich, que é igual a tantas outras músicas de Synth-Pop que andam por aí.
Todavia, entre toda esta obra sem criatividade existe um grande, grande raio de luz, que eu arriscaria afirmar ser um dos meus singles favoritos do ano: Tranz, com os seus sintetizadores dançantes mas meio profundos e acompanhados por vocais meio ressonantes, atropelando o ouvinte com a sua aura ameaçadora. Pena ser a única faixa que merece um mínimo de destaque, a meu ver.
Enfim, eu vejo The Now Now como "apenas mais um álbum". Nada de especial. Tem uma falta de criatividade absolutamente monstra (e esse é o principal porquê de estar abaixo de The Fall) e considero isso estranho, visto que Damon Albarn é - a meu ver - um compositor de excelência, com uma criatividade muito acima do normal.
5. The Fall

Géneros: Minimal Synth, Electro-Pop, Folktronica, Synth-Pop
Data de lançamento: 25 de Dezembro de 2010 (19 de Abril de 2011 em físico)
Editora: Independente
Em 2010, os Gorillaz decidiram presentear os fãs com um álbum surpresa, mesmo com o lançamento de Plastic Beach apenas alguns meses antes. A obra ficou disponível para download no site de fãs da banda - enquanto lançamento independente - até ter sido lançada a sua versão física em Abril de 2011, já com editora (Parlophone e Virgin).
Ora, para muitos fãs pode ter sido um presente bestial, mas eu achei-o bastante desapontante. Quer dizer: okay, sim, este foi o primeiro álbum que tenho conhecimento de ter sido gravado inteiramente num iPod, durante a tour de Outono para o álbum Plastic Beach (daí o nome do álbum) e sim, okay, também é verdade que a lore que ronda este álbum também é interessante. Contudo, eu creio que um bom álbum deve saber saber solidificar-se a si mesmo, sem necessitar de outros tipos de media para se tornar numa experiência musical completa. Ora, tendo isso em conta, eu creio que este álbum consiste muito essencialmente em faixas esquecíveis e aborrecidas, parecendo primeiros demos de um próximo álbum.
Claro, nem tudo é mau! Apesar de repetitivo e facilmente saturável, Revolving Doors é um bom single e até se poderia encaixar como faixa no Plastic Beach sem fazer estragos. Aliás, é provavelmente a faixa com mais pinta de single no álbum todo (até porque é uma das únicas com uma estrutura decente); destaco também os sintetizadores agressivos em The Joplin Spider, que lhe dão uma aura ameaçadora à qual é impossível ficar indiferente.
Todavia, creio que apenas duas de quinze faixas me chamarem à atenção não é algo bom, de todo. Um destaque ou outro, mas vejo isto como uma compilação de demos nunca usados ou uma espécie de spin-off à discografia do grupo. Nada mais que isso.
4. Humanz

Géneros: Electro-Pop, Art Pop, Hip-Hop, Neo-Soul, Dance Alternativo
Data de lançamento: 28 de Abril de 2017
Editora: Parlophone Records
Após um hiatus de seis anos, no qual Damon Albarn aproveitou para fazer diversos projectos (inclusivamente o oitavo álbum dos Blur: The Magic Whip), os Gorillaz voltam com um álbum gigante de 26 faixas.
Pois bem, em Humanz vemos uma grande mistura de géneros: desde Dance Alternativo (Andromeda e Strobelite) a Art Pop (Busted and Blue e Hallellujah Money) ou puro Hip-Hop (Let Me Out e Ascencion). Contudo, as ideias parecem ter sido todas mandadas à toa, sem qualquer preocupação de química entre faixas (sendo que Damon Albarn pôs os interludes ali como uma forma de solidifcar o álbum, acabando por não ajudar assim tanto). Além disso, apesar de eu apreciar uma boa quantia das 26 faixas apresentadas (muito especialmente Strobelite, Saturnz Barz e Out of Body), eu considero que o álbum é demasiado longo, tornando-o, a certa altura, um pouco aborrecido. A sua inconsistência e incoerência mais o seu tempo de duração são um combo perfeito para a eventual desistência por parte do ouvinte.
É também de destacar o exagerado tempo de antena que os Gorillaz dão aos convidados. Ok, temos aqui colaborações bastante interessantes: De La Soul (Momentz), Danny Brown (Submission), Pusha T (Let Me Out), Benjamin Clementine (Hallelujah Money) e Noel Gallagher (We Got the Power) são alguns dos principais exemplos. Contudo, por vezes os convidados acabam por abafar quase por completo a posição de 2-D (AKA Damon Albarn) enquanto frontman do grupo (especialmente em Momentz, mas não só). Isso faz com que esta obra mal pareça da autoria de Gorillaz.
Resumindo: continua a ser uma experiência engraçada, nem é assim tão mau quanto os fãs do grupo fazem querer parecer! Contudo, faltava um pouco de coerência e de identidade no projecto.
3. Gorillaz

Géneros: Trip-Hop, Rock Alternativo, Hip-Hop, Dub
Data de lançamento: 19 de Junho de 2001
Editora: Parlophone Records
Em 2001, os Gorillaz - uma banda sensação que crescia bastante rápido dentro da cultura alternativa britânica - lançou o seu primeiro álbum. Foi um sucesso bastante razoável, tendo vendido quase um milhão de cópias no Reino Unido e incluído singles de sucesso como Tomorrow Comes Today, 19-2000 (cujo videoclip, devo desde já dizer, é a memória mais antiga que tenho da minha existência) e, claro, o lendário Clint Eastwood.
Ora, este álbum homónimo é uma montanha-russa de géneros: temos Rock Alternativo (5/4, Punk e M1 A1), Hip-Hop (Clint Eastwood e Rock the House), Trip Hop (Tomorrow Comes Today e Double Bass), Dub (Man Research (Clapper), Starshine e Slow Country), etc..., tornando assim a experiência bastante interessante e multi-facetada, com Damon Albarn a explorar em 15 faixas - cada uma com a sua identidade própria - sons que se inserem tanto dentro como fora da sua zona de conforto. Claro, o álbum não é todo um mar de rosas: existem faixas que não vão muito com a minha cara, muito especialmente Latin Simone (Que Pasa Contigo?), que eu vejo como um filler na obra e que combinaria melhor com G-Sides (e já agora aproveitava-se e substituia-se essa faixa por Ghost Train ou Left Hand Suzuki Method, que eu creio que encaixariam que nem uma luva no projecto). Além disso, apesar de o álbum ser musicalmente bastante interessante, ele perde pontos pela falta que química entre a tracklist, que faz sempre um vai-e-vem entre Dub/Trip Hop e Rock. Contudo, este problema não está, de todo, tão agravado quanto em Humanz, sendo possível ter uma experiência musical digna de total respeito.

Géneros: Electro-pop, Art Pop, Hip-Hop, Dance Alternativo, Pop Psicadélico
Data de lançamento: 9 de Março de 2010
Editora: Virgin Records
Plastic Beach é um álbum consistente e captivante. Aqui, Damon Albarn consegue pegar em todas as ideias que teve para a obra e fazê-la de uma forma sólida e interessante, provando de uma vez por todas que ele sabia exactamente o que estava a fazer com os Gorillaz. Ele pode, por exemplo, ter escolhido bastantes convidados para o álbum, mas foram todos escolhidos a dedo e ele sabia exactamente o que queria que cada um fizesse. São muitos os exemplos: Welcome to the World of the Plastic Beach tem Snoop Dogg, uma figura emblemática do Pop Rap que viu as suas maiores qualidades aqui expostas; Mark E. Smith - frontman dos The Fall - pode ter tido uma breve aparição em Glitter Freeze, mas foi bastante sentida; Some Kind of Nature teve o lendário cantor de Glam Rock e Art Rock Lou Reed e, surpreendentemente, os seus vocais não podiam estar mais de acordo com a canção; etc..., etc..., etc...
Há também que destacar a forma suave como o álbum vai-se desenvolvendo. O que agora é música orquestral (Orchestral Intro) torna-se em Hip-Hop (Welcome to the World to the Plastic Beach e White Flag), num clímax electrónico (Glitter Freeze), ou até mesmo numa peça musical relaxante e flutuante (On Melancholy Hill e Broken). Tudo isto de uma forma subtil que, muitas vezes, pode passar despercebido. Enfim, estamos a falar de um álbum ambicioso que explora os confins do Pop (ou, mais especificamente, do Electro-pop) até ao seu limite de uma forma que o faz ser diversificado como uma playlist de Spotify, mas também insanamente coesivo.
1. Demon Days

Géneros: Art Pop, Hip-Hop, Rock Alternativo, Dance Alternativo
Data de lançamento: 24 de Maio de 2005 (11 de Maio de 2005 no Japão)
Editora: Virgin Records
Ah!... O bom clássico Demon Days! Afinal, quem não conhece esta capa de álbum, que é possivelmente uma das mais icónicas e memoráveis de todos os tempos?
O ano de 2005 foi uma época de ouro para os Gorillaz. O quarteto virtual viu o seu segundo álbum vender 8 milhões de cópias, receber o certificado de seis vezes platina no seu país de origem e ter chegado a nº1 nas charts de diversos países (mais tarde sendo considerado o álbum de Dança da década pela Billboard). Isto tudo para não falar do estrondoso sucesso de hits como Feel Good Inc. ou DARE. E sinceramente, eu creio que todo o louvor dado à obra é mais que merecido. A meu ver, Demon Days foi um grande upgrade do álbum homónimo, tendo dado muito melhor uso aos rappers escolhidos (Bottie Brown - membro dos The Pharcyde - aparece de uma forma tão, mas tão subtil e natural em Dirty Harry, Feel Good Inc. não seria o mesmo sem os De La Soul e MF Doom arrasa em November Has Come) e a transição entre Rock, Hip-Hop e Música de Dança já não é brusca e feia, como no homónimo (e, mais tarde, em Humanz): é pensada e usada a seu favor.
Devo também dar especial destaque à performance vocal de Damon Albarn em El Mañana, mostrando vulnerabilidade a um nível arrepiante; o groove de Kids With Guns, acompanhado por bom conteúdo lírico; a rockalhada chill em O' Green World; DARE, com os vocais de Roses Garbor a arrasarem o papel de Noodle (guitarrista fictícia da banda) e a ser uma fiel sucessora a Miho Hatori, que emprestou a sua voz para 19-2000, do álbum anterior; e, por fim, Every Planet We Reach is Dead: uma autêntica tripalhada com direito a orquestra, tornando-a única no álbum.
Enfim, é um álbum lendário, a meu ver. Influenciou a música alternativa para sempre e fez parte de toda uma geração. Tem tudo para ser considerado o pique da carreira dos Gorillaz.
Abaixo está uma playlist com os maiores êxitos (de acordo, principalmente, com streams do Spotify) do grupo. O nome desta playlist - 1968 - está ligado com a origem do nome Gorillaz. Sabiam que o nome veio do signo chinês Macacos (nascidos em 1968), que Damon Albarn e Jamie Hewlett partilham?
Retrato da banda, como fotografia de capa, tirada de https://www.rollingstone.com/music/music-news/gorillaz-new-documentary-reject-false-icons-screening-915892/ no dia 24 de Novembro de 2019.
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